reality vs non-sense?! stuff?! just feelings though!

segunda-feira, junho 19, 2006

spiritual vs sceptic vs stupid pride

Outro episódio passado na Índia, entre Maria e David, dois turistas à descoberta daquele país.

- O que foi? - pergunta David.
- Tomei uma decisão. Tenho de fazer uma coisa - diz Maria.
- O quê?
- A Eva esteve a falar-me de um sítio, não longe daqui, que eu gostava de visitar.
- E então?
- Mas não é um daqueles sítios onde se vai só para ver. Para lá ir é preciso tomar o compromisso de ficar, pelo menos, duas semanas.
- O quê? Porquê?
- É um ashram.
- Um quê? O que é isso?
- É um local hindu de retiro para meditação, reflexão e desenvolvimento espiritual.
- Desenvolvimento espiritual? Do que é que estás a falar miúda?
- Olha, não quero falar outra vez destas coisas contigo. Não vale de todo a pena. É óbvio que tu és insensível a... ao que este país está a tentar ensinar-te e por isso acho que devemos cingir-nos aos factos. Vou para um ashram com a Eva, durante pelo menos duas semanas.
- Hum... então é isso.
- Isso o quê?
- Abandonaste-me. É isso. Estou sozinho no meio da Índia a partir de agora... ok.
- Não, não estás. Percebo que não queiras vir connosco para o ashram, mas podemos sempre encontrar-nos...
- Tens toda a razão em dizer que não vou para o ashram. Não quero que um punhado de hare krishna me faça uma lavagem ao cérebro. Nem pensar. Não vou para lado nenhum que...
- Pára. PÁRA! Não quero ouvir mais nada. Os teus preconceitos são...
- PRECONCEITOS! Não tenho preconceitos nenhuns, só não quero acabar em plena Lisboa com a cabeça rapada, com uns trajes curiosos e a dizer a toda a gente que a amo.
- É a isso que se chama preconceito, David, caso não saibas o que a palavra quer dizer. Estamos a falar de uma religião, com centenas de milhões de fiéis, e tu não consegues pensar em mais nada a não ser numa... numa... manifestação ocidental tipicamente distorcida de uma filosofia oriental. És tão tapado que eu não percebo porque é que te deste ao trabalho de vir para cá.
- Nem me vou atrever a responder a isso. Simplesmente estás a abandonar-me por uma ideia que te imposeram agora na cabeça. Sim, essa tua amiguinha.
- O quê? Eu estou a responder a um chamamento. Se quiseres podes juntar-te a mim ou ir ter comigo mais tarde, mas eu não vou sacrificar esta oportunidade só por causa da tua estreiteza de espírito.
- E eu não vou ficar à tua espera. Tenho um itinerário que vou continuar a seguir. Há um país inteiro à espera que eu o visite. Não posso perder o meu tempo aqui, pois não? Acabaria por enlouquecer. Não vale a pena vir à Índia e não ver nada, ou estar parado sem fazer nenhum. Tenho de me pôr a andar. Tenho de ir para Goa.
- A impanciência é um estado de espírito tipicamente ocidental. Não percebes isso, mas tornas-te uma imitação de ti próprio.
- Uma imitação de mim próprio? Essa é para rir!
- O que queres dizer com isso?
- Tu... tu... tu tornaste-te uma idiota. É a única maneira de o dizer. E nem sequer tens personalidade suficiente para te tornares uma imitação de ti própria. Tornaste-te uma imitação de outra pessoa qualquer. Apesar de a Eva ser uma das pessoas mais idiotas que alguma vez pisaram a Terra, tu decidiste transformar-te nela! É patético!
- Se me tivesses dito isso há uma semana, teria ficado chateada. Felizmente para ti, nos últimos dias fiz progressos consideráveis, fiz bastante meditação e já me conheço suficientemente para que um estúpido patético como tu consiga atingir-me. O meu verdadeiro eu é impermeável a pessoas como tu. Podes dizer o que quiseres que, pura e simplesmente, não me ofendes, seu... seu MERDAS! SEU OTÁRIO! SEU PSEUDO-HOMEM FRACO, ANTIPÁTICO, RIDÍCULO, FALSO! ODEIO-TE E NÃO QUERO VOLTAR A VER-TE, SEU ANORMAL DE MERDA! METES-ME NOJO!


[ Adaptação de um excerto do capítulo "Então é isso", retiradodo livro "A viagem da minha vida - pela Índia de mochila às costas", de William Sutcliffe ]