reality vs non-sense?! stuff?! just feelings though!

segunda-feira, junho 19, 2006

spiritual vs sceptic

Maria, que viajava com David há um mês e meio pela Índia, encontrou, no albergue onde estavam instalados, em Manali, uma antiga colega sua dos tempos da Escola de Música, a Eva.
Falam num tom bastante alegre e carinhoso:

- É tããããão bom ver-te - diz Eva, ao mesmo tempo que aperta a mão de Maria.
- E que coincidência - remata Maria.
- É incrível!
- Espantoso mesmo.
- E de onde vieste, há quanto tempo estás por cá?? - pergunta Maria.
- Eu e uma amiga minha, a Anne, que entretanto já se foi embora, acabámos de passar três meses numa colónia de leprosos em Udaipur.
- O QUÊ ?!?! - exclama David, deixando cair o livro, que estava a tentar ler, no chão.
- Sim. Foi fantástico. - responde Eva imediatamente.
- Passar três meses numa colónia de leprosos?! Porque é que fizeram isso?
- Oh é espantoso!
- Pois é, eu sempre quis fazer isso - disse Maria.
- O quê?? - exclamou David, tendo recebido como resposta um olhar fulminante de Maria.
- Eu fiquei uma pessoa diferente. O meu karma é completamente diferente. Aprendi tanta coisa sobre mim, sobre o sofrimento. Dei alguma coisa à Índia, como troca do que ela me tem dado - explicou Eva com uma voz doce.
- Mas... não é perigoso? - perguntou David.
- Não sejas parvo, achas que sim? A lepra é uma doença curável desde que seja atacada numa fase inicial. E não é nem pouco mais ou menos tão contagiosa como as pessoas pensam.
- Mas... é repugnante.
- Tem de se ultrapassar isso. Ali as pessoas estavam numa fase incurável. As pessoas são as mais mutiladas do que em qualquer outro lado e é preciso lavá-las, ajudá-las a andar e tentar ajudá-las a viver com a doença.
- Lavá-las? - perguntou David com o maior ar de nojo possível expresso na sua face.
- Sim. Fiquei viciada nisso, acredita.
- O QUÊ??
- A príncipio é horrível, mas quando nos habituamos é a melhor sensação de sempre. Sentimo-nos pessoas boas. O nossa karma fica positivo. Sentimos que nos depojamos de todos os privilégios com que nascemos e ficamos reduzidos a simples pessoas que esfregam as costas a um leproso moribundo, sujo e cheio de crostas. É absolutamente fantástico.
- Meu deus - comenta David.
- Cala-te! És um insensível preconceituoso - diz Maria.
- Pronto está bem. Outra vez não - responde David.
- Bem, não vão começar a discutir, espero - diz Eva. - Eu até estou meio adoentada, perdi dez quilos...
- Perdeste dez quilos? - pergunta Maria espantada.
- Sim, perdi.
- Uau, que sorte - diz Maria com um sorriso.
- Mas estou a começar a ficar preocupada porque tenho andado a desmaiar, e por outro lado mentalizei-me que não acredito em médicos.
- Como é possível não acreditares em médicos e teres estado a trabalhar num hospital? - pergunta David.
- Não era um hspital, era um hospício - disse Eva - E tinha curandeiros em vez de médicos.
- Qual a diferença?
- Os médicos curam a doença. Os curandeiros curam a pessoa.
- E a qual deles é que se vai por causa da caganeira?
Maria lançou um olhar desperado a David.


[ Adaptação de um excerto do capítulo "Foi mesmo Fantástico?", retiradodo livro "A viagem da minha vida - pela Índia de mochila às costas", de William Sutcliffe ]

2 Comments:

Blogger El-Gee said...

achei q era da tua autoria até perceber que não. tava a ficar maluco! bom quote!

quarta-feira, junho 21, 2006 9:50:00 da manhã

 
Blogger m said...

A adaptação é minha, porque não está exactamente igual ao livro :P

Vale a pena ler o livro.
Parece um livro para adolescentes, mas é bem mais que isso.

quinta-feira, junho 22, 2006 12:14:00 da tarde

 

Enviar um comentário

<< Home