reality vs non-sense?! stuff?! just feelings though!

quarta-feira, dezembro 19, 2007

A little bit of cinema... (quase passado um ano de ausência)


Já tinha ouvido falar no filme Control.
Ontem tive a tarde livre (aquela expressão tão europeia - ou não) e ao folhear o jornal do metro, reparei que havia uma sessão às 16h45 no cinema perto de casa.
E há tanto tempo que não ía ao cinema sozinha... mas a vontade de o fazer era imensa. Que saudades de estar naquele espaço outra vez, só comigo mesma... faz-me lembrar a minha pseudo-melancolia urbana de inverno pela qual às vezes me passeava entre os 18 e os 20 ou 21 anos.
A sala de cinema sentava mais duas pessoas para além de mim. Um jovem que fumou um cigarro no hall freneticamente, que despiu o casaco freneticamente e que trazia consigo um observar, também ele frenético. E sentado mais atrás estava um surpreendente senhor de bengala, nitidamente idoso, a quem eu não daria menos de 75 ou até 80 anos, querendo arriscar um pouco mais. Eu fiquei instalada o mais atrás e centrada possível, mesmo como eu gosto.
Control surge a preto e branco, mostra um subúrbio de Manchester e umas notas da sua cena musical de finais da década de 70*.
Ian Curtis (Joy Division) é o centro. Estados de solidão, melancolia, sofrimento, doença, emoção, fraqueza, expectaiva, dúvida, etc, são expressos como sendo a sua condição.
Ele suicidou-se com a minha idade no mês de Maio de 1980.
A fraqueza e a pressão do ser humano é imensa, sobretudo perante a responsabilidade e o dever, ainda para mais quando estes são artísticos.
Provavelmente Ian preferia ter sido somente um compositor anónimo, ou quase isso. Mas a sua força interior fazia-o tremer, o seu talento fazia-o tremer, as letras faziam-no tremer, a música fazia-o tremer, Bowie fazia-o tremer, o amor fazia-o tremer, a epilepsia, ela pópria, fazia-o literalemente tremer, cada vez mais e descontroladamente.
Do filme fica um momento nostálgico, a descoberta do protagonista Sam Riley (que curiosamente nasceu no ao em que Ian morreu), a descoberta um pouco mais profunda do universo dos Joy Division e o apuramento de uma excelente fotografia.
Aquando do negro final do ecrã, o jovem sai da sala freneticamente e o senhor idoso faz o mesmo, porém calmamente, apoiado na sua bengala.
Têm surgido várias películas sobre figuras musicais sobretudo da era rock, punk e post-punk dos anos 60-70 e até sobre o grunge com Last Days.
Agora pergunto: será que só as vidas mais pesadas, carregadas de contrastes, vícios e melancolias das décadas do rock é que despertam curiosidade aos realizadores?
Porque não um filme sobre, por exemplo, a emergência da brit pop nos ínicios da década de 90, com os Blur, Oasis, Suede, Pulp ou The Verve como pano de fundo?
Foi, neste caso, uma época mais alegre, mais florida... mas não menos curiosa para retratar na tela.



* Para um cenário mais completo da cena musical de Manchester nesta época, aconselho o filme "24hours Party People"