reality vs non-sense?! stuff?! just feelings though!

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Pormenores curiosos do meu Eu contemporâneo

Neste momento não sou viciada em nenhuma série, muito menos em nenhuma telenovela (e as únicas séries em que fui minimamente viciada foram as imprevísiveis britcoms "Absolutely Fabulous" e "Little Britain"; e telenovelas já lá vão alguns anos).

Ultimamente tenho lido cerca de três livros ao mesmo tempo: uns vou lendo ao sabor do vento, calmamente, quase como que de uma consulta se tratasse, sublinhando os parágrafos, expressões ou palavras soltas mais interessantes a meu ver; outros, leio três capítulos de seguinda e depois faço uma pausa enorme na continuação da sua leitura, passando para os restantes livros.

Continuo a achar que a cidade foi criada para se utilizarem os transportes públicos e faço questão de circular de metro (para mim o melhor) para todo o lado, a ponto de recusar o automóvel a torto e a direito, a gregos e troianos.

Todas as manhãs, em jejum, como um kiwi. Em último caso recorro a um citrino.

Sou da opinião de que as mulheres (portuguesas) deveriam ter menos medo de abusar das cores e das saias no seu vestuário, tentanto começar a colocar um bocadinho de parte as tão irritantes vs práticas calças de ganga. O país só ganharia com isso!

Sou viciada em sopa (sobretudo caldos asiáticos), ao ponto de ser capaz de viver somente com esse tipo de alimentação.

Quando vejo estrangeiros na rua, não descanso enquanto não consigo perceber em que lingua estão a falar (discretamente e quase inconscientemente, óbvio).

Manias...

A little bit of cinema... (quase passado um ano de ausência)


Já tinha ouvido falar no filme Control.
Ontem tive a tarde livre (aquela expressão tão europeia - ou não) e ao folhear o jornal do metro, reparei que havia uma sessão às 16h45 no cinema perto de casa.
E há tanto tempo que não ía ao cinema sozinha... mas a vontade de o fazer era imensa. Que saudades de estar naquele espaço outra vez, só comigo mesma... faz-me lembrar a minha pseudo-melancolia urbana de inverno pela qual às vezes me passeava entre os 18 e os 20 ou 21 anos.
A sala de cinema sentava mais duas pessoas para além de mim. Um jovem que fumou um cigarro no hall freneticamente, que despiu o casaco freneticamente e que trazia consigo um observar, também ele frenético. E sentado mais atrás estava um surpreendente senhor de bengala, nitidamente idoso, a quem eu não daria menos de 75 ou até 80 anos, querendo arriscar um pouco mais. Eu fiquei instalada o mais atrás e centrada possível, mesmo como eu gosto.
Control surge a preto e branco, mostra um subúrbio de Manchester e umas notas da sua cena musical de finais da década de 70*.
Ian Curtis (Joy Division) é o centro. Estados de solidão, melancolia, sofrimento, doença, emoção, fraqueza, expectaiva, dúvida, etc, são expressos como sendo a sua condição.
Ele suicidou-se com a minha idade no mês de Maio de 1980.
A fraqueza e a pressão do ser humano é imensa, sobretudo perante a responsabilidade e o dever, ainda para mais quando estes são artísticos.
Provavelmente Ian preferia ter sido somente um compositor anónimo, ou quase isso. Mas a sua força interior fazia-o tremer, o seu talento fazia-o tremer, as letras faziam-no tremer, a música fazia-o tremer, Bowie fazia-o tremer, o amor fazia-o tremer, a epilepsia, ela pópria, fazia-o literalemente tremer, cada vez mais e descontroladamente.
Do filme fica um momento nostálgico, a descoberta do protagonista Sam Riley (que curiosamente nasceu no ao em que Ian morreu), a descoberta um pouco mais profunda do universo dos Joy Division e o apuramento de uma excelente fotografia.
Aquando do negro final do ecrã, o jovem sai da sala freneticamente e o senhor idoso faz o mesmo, porém calmamente, apoiado na sua bengala.
Têm surgido várias películas sobre figuras musicais sobretudo da era rock, punk e post-punk dos anos 60-70 e até sobre o grunge com Last Days.
Agora pergunto: será que só as vidas mais pesadas, carregadas de contrastes, vícios e melancolias das décadas do rock é que despertam curiosidade aos realizadores?
Porque não um filme sobre, por exemplo, a emergência da brit pop nos ínicios da década de 90, com os Blur, Oasis, Suede, Pulp ou The Verve como pano de fundo?
Foi, neste caso, uma época mais alegre, mais florida... mas não menos curiosa para retratar na tela.



* Para um cenário mais completo da cena musical de Manchester nesta época, aconselho o filme "24hours Party People"